domingo, 22 de maio de 2011

Acultura do rei do baião, e o nordeste.



A Secretaria Municipal de Cultura propõe como proposta inspiradora dos trabalhos realizados em 2011 um diálogo com a cultura nordestina. A idéia foi sendo construída ao longo do segundo semestre de 2010 e se fortaleceu com a decisão de homenagear o músico Luiz Gonzaga no XI Festival de Música, que vai acontecer em julho. Pernambucano de Exu, filho de sanfoneiro, seu trabalho musical popularizou o acordeon e uma instrumentação típica do nordeste (zabumba, triângulo e sanfona) utilizando a música e poesia para contar as alegrias e tristezas da vida do sertanejo. Sua obra popularizou a maneira nordestina de produzir arte no sul e sudeste, numa época em que a migração foi bastante significativa. Acolhida inicialmente pelos nordestinos que moravam no sul, a música de Luiz Gonzaga conquistou não só essas regiões, mas todo o país.
Reconhecer a qualidade e a riqueza da cultura produzida pelo nordeste do país auxilia na conscientização da nossa diversidade, compreendendo nossas diferenças e evitando preconceitos.
O patrimônio cultural nordestino, que se expressa nas artes, na culinária, na religiosidade e no próprio vocabulário da região configura àquela região uma identidade própria. Se no passado a intensa migração de nordestinos em direção aos estados do sul beneficiou a difusão desse patrimônio, hoje as novas tecnologias permitem trocas culturais mais imediatas, ampliando o acesso rápido à riqueza de manifestações culturais daquela região.
Criar situações que favoreçam essas trocas culturais em Ourinhos durante todo o ano é uma forma de reconhecer a importância das diferentes tradições na constituição da identidade brasileira. As atividades de pesquisa e criações artísticas que poderão advir dessa proposta reforçarão nossa identidade, evidenciando as influências e miscigenações próprias do país como formadoras de uma cultura rica e plural. Degustar uma bela porção de carne de sol ou deleitar-se com a poesia popular de Patativa do Assaré são formas de reconhecer-se no outro, nas diferenças que se complementam.
O planejamento desenvolvido pela Secretaria Municipal de Cultura prevê a inclusão desse diálogo com a cultura nordestina em todos os projetos que integram a agenda cultural da cidade, contemplando linguagens como a literatura, a música, a dança, o teatro e o cinema.
A cidade vai perceber logo nos primeiros meses do ano a proposta cultural lançada pela Secretaria de Cultura, que pretende realizar um concurso de forró, dança popular de origem nordestina e hoje presente em todo o país, popularizada por Luiz Gonzaga. O evento vai envolver os clubes de dança da cidade e cursos de dança de salão em etapas eliminatórias que serão realizadas em diversos locais da cidade. A final está marcada para o dia 16 de julho. Uma música de Luiz Gonzaga será escolhida como confronto, o que vai motivar a criação de coreografias diferentes pelos casais concorrentes.
A homenagem que o Festival de Música presta a Luiz Gonzaga em 2011 vai motivar trabalhos desenvolvidos nas escolas durante todo o ano. Será a chance dos alunos conhecerem ritmos populares como o coco, xaxado, baião e forró. Além da obra do músico homenageado, será uma boa oportunidade para se ouvir Alceu Valença, Dominguinhos, Dorival Caymmi, Jackson do Pandeiro e tantos outros. As escolas também poderão exercitar atividades criativas com os alunos como a criação de cordéis, trabalhos em xilogravura, teatro de mamulengos ou a leitura de escritores nordestinos como o poeta João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna, Ferreira Gullar, Jorge Amado e outros.
O movimento armorial, lançado pelo escritor Ariano Suassuna, propôs uma linguagem erudita criada a partir de elementos da cultura popular nordestina, aplicada na literatura, dança, música, teatro, cinema e outras artes. Estudar essa proposta significa um mergulho nas tradições populares do nordeste. Durante o Festival de Música, a tradição de se enfeitar as vitrines comerciais da cidade também poderá ser inspirada na cultura nordestina.
A Mostra Sérgio Nunes de Teatro, agendada para maio, também vai privilegiar em sua programação influências vindas do nordeste, quer sob a forma de teatro de rua, cordel ou a seleção de companhias que estejam encenando autores daquela região.
As atividades literárias desenvolvidas pela Secretaria de Cultura também serão inspiradas no nordeste. Assim, o tema de algumas oficinas poderá ser o cordel, e um escritor nordestino será convidado para o evento. A idéia é que a rica poesia popular do nordeste, presente nos cordéis ou repentistas, seja mais conhecida pelos ourinhenses e esteja presente durante todo o ano.
O 7º Curta Ourinhos, festival de curta-metragens e outras iniciativas na área do audiovisual também serão influenciadas pela proposta de trabalho da Secretaria. A forma peculiar da arte produzida no nordeste em suas diferentes linguagens produz uma estética própria, nem sempre de rápida identificação. Como nas outras manifestações culturais brasileiras, é uma estética híbrida, formada por fragmentos miscigenados com várias influências. Um exemplo é a obra do cineasta pernambucano Cláudio Assis, diretor dos premiados Amarelo manga e Baixio das Bestas. Assim, durante todo o ano e principalmente durante o 7º Curta Ourinhos, em outubro, será possível conhecer um pouco mais sobre o cinema feito pelos nordestinos.
Na área de preservação e memória, a Secretaria pretende valorizar e resgatar as histórias de vida dos nordestinos radicados em Ourinhos através da gravação de depoimentos, organização de encontros e outras oportunidades de convívio e troca de experiências.
Além das atividades realizadas pela própria Secretaria de Cultura, outros parceiros serão chamados para participar do projeto. O Ponto de Cultura Para Ler o Mundo, realizado pela Associação de Amigos da Biblioteca Pública (AABIP) já está planejando suas atividades a partir de influências e pesquisas sobre o nordeste.
Tão rica de significados e influências, a tradicional culinária nordestina também será lembrada em oficinas, exposições e no esperado Sarau Literário que, como nos anos anteriores, encerra o evento literário A(o)gosto das Letras. Antes da expansão de restaurantes de comida nordestina por todo o Brasil, ela já havia se eternizado, por exemplo, nos romances do baiano Jorge Amado. Também será lançado um concurso envolvendo os restaurantes da cidade, para escolha do melhor prato de origem nordestina. Assim como a produção artística, a culinária nordestina se formou a partir das tradições alimentares européias, indígenas, negras e, mesmo com algumas peculiaridades locais, a comida nordestina se apresenta sempre com sua riqueza de sabores, cores e aromas, resultado desta fusão.

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