domingo, 10 de março de 2013

As Caras do Rio: O rei carioca do baião e a Cultura Nordestina


Um dos fundadores da Feira de São Cristóvão e o primeiro sanfoneiro a tocar no lugar. Ivo Amaral, o famoso Zé da Onça, é o representante mais carioca do Nordeste, o responsável por manter viva a tradição de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e João do Vale na Cidade Maravilhosa.
Filho de Correntes, em Pernambuco, Zé da Onça foi criado em Garanhuns, terra de Dominguinhos. Trabalhava com a família na lavoura, plantando milho, feijão, melancia, jerimum, quiabo e maxixe. Aos 25 anos, decidiu vir para o Rio porque o pai se recusava a dar para ele uma sanfona. “Pedia sempre pro meu pai porque eu gostava de ver o forró, mas ele não queria porque dizia que eu ia beber cachaça. Me dava sapato, roupa, no fim do ano, e não me dava a sanfoninha. Tive que sair de casa”, lembra ele, hoje com 77 anos.
Zé da Onça é um dos fundadores da Feira de São Cristóvão | Foto: João Laet / Agência O Dia
Zé da Onça é um dos fundadores da Feira de São Cristóvão, Blog Sertão9
Ao chegar ao Rio, ficou jogado na Central do Brasil até ser recolhido por guardas e levado para um albergue. Uma ambulância do Hospital Miguel Couto passou por lá oferecendo trabalho e ele aceitou. Fazia bicos para funcionários e doentes enquanto aguardava uma vaga oficial. Quando a vaga apareceu, ele nem precisava mais, porque já ganhava maisdinheiro do que receberia de salário, de tão querido que era. Comprou até barraco na Rocinha. “O primeiro dinheiro que ganhei comprei a sanfona. O diretor me botava pra fora porque eu ficava tocando, acordando os doentes”, se diverte Zé.
O músico foi tocar na rua Siqueira Campos, em Copacabana, e começou a ganhar com sua arte. “Não tocava nada, mas naquele tempo quem assobiava era artista. Fui parar na feira, lá no campo de São Cristóvão, em 1972. Só tinha oito barracas. Vi muitos nordestinos descerem todos empoeirados e sujos dos paus-de-arara”, lembra.
Os teclados da sanfona de Zé da Onça agregaram outros membros da família, hoje conhecidos como Sua Gente. “Graças à minha sanfona fui para Itália, Paris, Caracas, Holanda. Consegui quase tudo que eu quis na vida, ainda falta um pouco, porque eu quero sempre mais. Só saio da feira de São Cristóvão quando eu morrer”.

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