sábado, 4 de julho de 2015

Em sua 45ª edição, tradicional Missa do Vaqueiro não vai acontecer este ano


04/07/15 A tradicional Missa do Vaqueiro deste ano, em que se deveria comemorar seus 45 anos de realização, o evento, que reúne milhares de pessoas no município de Serrita, no Sertão pernambucano (535 km do Recife), pode não acontecer.


Além da redução no repasse de verbas do Governo do Estado para a Fundação Padre João Câncio, responsável pela produção, a Empetur alegou não ter condições para as reformas necessárias para receber o público no Parque Estadual João Câncio, onde a Missa é celebrada e também onde acontecem os shows da parte profana da festa.
Visitantes de todo o Nordeste prestigiam a festa, lotando todas as hospedagens da cidade e dos municípios vizinhos, como Salgueiro, Exu, Parnamirim e Moreilândia, além de movimentar o fluxo do comércio local.
De acordo com os organizadores do evento, a diminuição em 30% do montante de recursos repassados é até contornável, mas a completa falta de infraestrutura em um equipamento de responsabilidade da Secretaria de Turismo do Estado e da Empetur inviabilizam qualquer iniciativa.
"O pior é a falta de interesse, o desprezo. A Empetur chegou a recomendar o cancelamento do evento, sem buscar nenhuma alternativa para reverter essa situação", diz Helena Câncio, coordenadora da Missa do Vaqueiro.
Turismo regional sem atenção
Desde o ano passado a Fundação Padre João Câncio vem tentando junto ao Governo do Estado, que patrocina a Missa através da Secretaria de Turismo e da Empetur, a ideia de desenvolver a infraestrutura da cidade - começando pela reforma do Parque Estadual João Câncio, onde a Missa é celebrada - e da criação de uma rota turística.
"A ideia seria traçar um itinerário que passasse por cidades importantes do centro do Sertão para a história dos vaqueiros. Essa seria uma boa forma de apresentar mais sobre essa cultura, muitas vezes não valorizada, ao Nordeste e ao Brasil", afirma Helena Câncio
Considerado o maior evento cultural dos Sertões, a Missa do Vaqueiro é conhecida por mesclar o tradicional e o profano. No ano passado recebeu um público de aproximadamente 70 mil pessoas. Como de costume, os visitantes puderam conferir inúmeras atrações nos dias que antecedem a missa em homenagem ao vaqueiro Raimundo Jacó. Entre elas, vaquejadas, pegas de boi, exposição de artesanatos e shows de artistas regionais e locais, como Gabriel Diniz, Josildo Sá, Quinteto Violado, Dorgival Dantas, Sela Rasgada e Coral Aboios.
História
A Missa do Vaqueiro, realizada anualmente sempre no quarto domingo do mês de julho, tem em suas origens uma história que foi consagrada na voz de Luiz Gonzaga: a de Raimundo Jacó, um vaqueiro habilidoso na arte de aboiar. Reza a lenda que seu canto atraía o gado. Mas atraía também a inveja de seus colegas de profissão, fato atribuído a sua morte. O fiel companheiro do vaqueiro na aboiada, um cachorro, velou o corpo do dono dia e noite, até morrer de fome e sede.
A história de coragem se transformou num mito do Sertão e três anos após o trágico fim, sua vida foi imortalizada pelo canto de Luiz Gonzaga. O Rei do Baião, primo de Jacó, transformou "A Morte do Vaqueiro" numa das mais conhecidas e emocionantes canções brasileiras, num hino de louvor para os vaqueiros nordestinos. Mas Gonzaga queria mais.
Dessa forma, ele se juntou a João Câncio dos Santos - padre que ao ver a pobreza e as injustiças cometidas contra os sertanejos passou a pregar a palavra de Deus vestido de gibão - para fazer do caso de Jacó o mote para o ofício do vaqueiro e para a celebração da coragem.
Assim, em 1970, o Sítio Lajes, em Serrita, onde o corpo de Jacó foi encontrado, recebe a primeira Missa do Vaqueiro.
De acordo com a tradição, o início da celebração é dado com uma procissão de mil vaqueiros a cavalo, que levam, em honras a Raimundo Jacó, oferendas - como chapéu de couro, chicotes e berrantes - ao altar de pedra rústica em formato de ferradura. A missa, uma verdadeira romaria de renovação da fé, acontece sempre ao ar livre e se assemelha bastante aos rituais católicos, porém contando com toques especiais que caracterizam o evento: no lugar da hóstia, os vaqueiros comungam com farinha de mandioca, rapadura e queijo, todos montados a cavalo..

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