sábado, 25 de junho de 2011

O Nordeste e os seguidores da música, de Luiz Gonzaga.


Aos 9 anos, o músico Waldonys já tocava sanfona. Aos 15, fez sua primeira participação com Luiz Gonzaga; durante as gravações do disco, o rei do baião fez um elogio ao menino

Da Redação do Globo Repórter
Sanfona, triângulo e zabumba. A festa vai começar. O sanfoneiro é o mais requisitado. E tem que ser bom – no ritmo e na garganta. O forró pé-de-serra começa ao anoitecer e só termina com o sol raiando.

Sanfona é uma paixão, e o namoro começa cedo. O promotor de Justiça Diego Pessoa é um mestre apaixonado pela sanfona.Mas é no Fórum da cidade de Custódia, no sertão de Pernambuco, que doutor Diego tenta ensinar o que sabe. Penas alternativas destinadas à compra de sanfonas para as crianças carentes aprenderem a tocar. As aulas são na calçada e o promotor de Justiça é o professor.“Por serem crimes leves, é possível fazer uma transação penal. O promotor diz para o autor da infração que não vai entrar com a ação contra ele, desde que ele se comprometa a se submeter a uma pena alternativa”, explica doutor Diego.Etelvino de Souza foi apanhado pela polícia sem habilitação para guiar motos. Uma pena leve foi aplicada e cumprida. Hoje ele é um dos colaboradores da escola de pequenos sanfoneiros. “Isso me deixou feliz porque sei que valeu a pena”, comenta.Paulo Freitas deixou a roça, onde trabalhava duro na enxada, e foi para a cidade aprender a tocar sanfona. “Quero aprender sanfona e tocar muito, se Deus quiser”, diz.Discípulos de Luiz GonzagaAos 9 anos, o músico Waldonys já tocava sanfona. Aos 15, fez sua primeira participação com Luiz Gonzaga. Durante as gravações do disco, o rei do baião fez o seguinte elogio ao menino: "Esse Waldonys é muito atrevido. Com 15 anos de idade já toca desse jeito. É um atrevimento".O garoto Waldonys tocava em uma sanfona de 80 baixos. Ganhou de presente do rei do baião uma de 120, reduzida. “Ele perguntou se tinha ficado boa e eu respondi que sim. Então, ele disse que a sanfona era minha”, conta o músico.Tocar na sanfona que foi de Luiz Gonzaga é sempre um momento de boas lembranças. “É uma relíquia. Como dizia o meu avô: 'É de Maroca, não se vende nem se troca'.”Uma raridade: duas sanfonas brancas autênticas de Luiz Gonzaga estão na exposição de uma colecionadora na cidade de Campina Grande, na Paraíba. Dominguinhos, o maior seguidor de Luiz Gonzaga, está de olho nas sanfonas brancas.“No dia em que vi essa sanfona, pedi para que a proprietária me vendesse, pelo amor de Deus. Ela disse que não vendia, não dava nem trocava”, conta Dominguinhos.A sanfona faz parte da coleção da dentista Rilávia Cardoso. “Não vendo, não dou e não troco”, confirma. “Não tem nada que compre essa sanfona.”“Isso é ruindade mesmo”, critica Dominguinhos.Rei do baião, pernambucano do século, criador de muitos ritmos. No Nordeste, ninguém festeja o São João sem as músicas de Luiz Gonzaga.“Luiz Gonzaga criou um ritmo e batizou de forró”, conta o músico Santana Cantador.O forró vem da palavra africana forrobodó, segundo o folclorista Câmera Cascudo. Mas Santana descobriu em suas pesquisas que o ritmo mais quente do São João é uma mistura bem brasileira. “O forró é uma mistura do baião com o chorinho brasileiro”, explica.E o xote, aquele ritmo quase romântico, mais lento, de onde vem? “O xote é de origem escocesa”, conta Santana.Gonzagão dominava tanto a sanfona que muitas vezes, nas mãos dele, os ritmos nasciam de improviso. “Só ele fazia”, diz Dominguinhos.“A marchinha junina é uma coisa muito popular, as pessoas adoram. Tem cheiro de fogueira, cheiro de chão, cheiro de sertão, cheiro de bandeira, cheiro de balão”, comenta Santana.Herança preservadaEm todo canto do Nordeste existem lembranças de Gonzagão. O professor José Nobre Medeiros tem uma coleção tão valiosa que resolveu criar um museu fonográfico em Campina Grande. Ele se emociona quando mostra o acervo.“Para mim, foi o maior representante musical do Brasil”, diz. Fotografias, mais de mil discos e uma raridade: a música de Luiz Gonzaga ganhou versões até no outro lado do mundo. “Dois baiões em japonês: ‘Paraíba’ e ‘Baião de dois’”,

Nenhum comentário:

Postar um comentário