Um texto que surge sem muito planejamento, apenas da minha vontade de trazer à cena uma data tão importante culturalmente, mas que não tem a atenção que merece.
Dia 20 de Julho de 1950, Luiz Gonzaga grava a música Forró do Mané Vito, uma entre as tantas composições que surgiram de sua parceria com Zé Dantas – compositor, poeta, folclorista e amigo do Rei do Baião. Com o lançamento deste disco, o Forró começou a se espalhar pelo Brasil, quebrando o estigma social que existia para com o ritmo, antes visto como ordinário devido ao seu apelo mais voltado para o popular. Nessa hora, prefiro deixar de lado a narradora de fatos históricos para pôr em cena a Aline pessoa mesmo, uma vez que o que me move a escrever sobre esta data são as minhas vivências como nordestina, forrozeira assumida e filha de sanfoneiro.
Só quando cresci que vim a conhecer a trajetória heróica do Gonzagão, mas desde a infância somos apresentados a ele, mesmo sem saber, Asa Branca, o dito hino do Nordeste, inevitavelmente vai figurar em algum momento da vida escolar da criança nordestina. Não sei no resto do Brasil, mas por aqui é assim. Quando adolescente, coisa de 15/16 anos, me liguei bem mais à cultura importada, elo não só de vontades, mas também de consumo, agradeço por ter sido apenas uma fase. Não me fecho para o novo, sou curiosa, ouço, leio, devoro mesmo o que as outras culturas têm de bom a oferecer, como numa “antropofagia” moderna, acho que só assim o homem pode enxergar mais além.
O que me causa não só admiração, mas também tristeza, é ver que do conhecimento da autêntica tradição que é o forró para o reconhecimento de sua importância, há ainda um abismo muito grande. As crianças conhecem, como eu disse, o contato é inevitável, mas talvez falte mais estímulo às novas gerações, ou talvez o mundo esteja tão de “pernas pro ar” que os interesses individuais se sobrepujem à valorização daquilo que constitui uma identidade nacional, regional, local ou simplesmente humana.
Enfim, não foi para falar de insatisfações que eu quis escrever, mas para trazer a lembrança do “Seu Lua”, homem determinado que, mesmo desacreditado pela maioria, conseguiu construir uma brilhante carreira nas terras do “sul”, sem nunca tirar os pés do chão nem o coração de sua cidade Exu (PE). Até hoje me fascina ouvir minha mãe contar dos “bailes” que agitaram sua solteirice, do charme e da habilidade de meu pai nessas festas, ousado nos 60 baixos de sua Sonelli vermelha desde a mocidade. Dá uma vontade danada de viver em outros tempos, de sair dessa órbita por um momento, vestir aquela saia de chita e arrastar o pénos salões de minha cidade natal, aquela na qual nasci, mas nunca vivi de verdade. fonte substanti plural.
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