domingo, 30 de dezembro de 2012

Obra reúne 22 partituras de fase pouco conhecida de Luiz Gonzaga


Quando se ouve falar em choro vêm imediatamente aos ouvidos os sons de violões, flautas, cavaquinhos e bandolins. Mas, surpreendentemente, a sanfona também pode ser incluída nessa lista, graças ao mais conhecido sanfoneiro do Brasil, Luiz Gonzaga (1912-1989). Ele, que ficaria imortalizado pela alcunha de Rei do Baião, andou flertando nas décadas de 30 e 40 com ritmos como polca, mazurca, valsa e choro.

Esse período é abordado no livro Luiz Gonzaga: Tem Sanfona no Choro (Instituto Moreira Salles/R$ 50/72 págs.), que reúne 22 partituras de choros gravados por Luiz Gonzaga entre 1941 e 1946. A obra tem organização do músico e pesquisador Marcelo Caldi, que transcreveu as partituras a partir das  gravações originais, já que não havia registro escrito dessa fase de Gonzagão.


Mas o livro traz, além do conteúdo técnico, outros itens que podem interessar ao leitor que não sabe tocar sequer um acorde. Um desses itens é o texto do pesquisador Fernando Gasparini, fazendo pequena biografia do músico pernambucano. Ainda que não traga informações surpreendentes, vale para conhecer uma fase ainda um pouco obscura da vida dele.  

O item mais valioso, que deve interessar inclusive aos fãs de Luiz Gonzaga, é um CD instrumental com 13 faixas produzido por Marcelo Caldi. São regravações de músicas compostas por Gonzagão em raros LPs lançados na década de 40. Com exceção de duas músicas criadas  com os parceiros Francisco Reis e Zé Dantas, as demais têm Luiz Gonzaga como único compositor.

Rio de janeiro 
Nascido em Exu, no sertão de Pernambuco, em 13 de dezembro de 1912, Gonzagão brigou com a mãe, Santana, e foi para o Crato, no Ceará, para servir o Exército. Quando encerrou a carreira militar, aos 26 anos, partiu para o Rio de Janeiro, onde viu oportunidades de ganhar uns trocados se apresentando em bares da cidade.

Mas, àquela altura, Gonzaga não estava mais interessado nas melodias pé de serra que ouvia na infância, principalmente com o pai, Januário. Ele preferia os sucessos que escutava nas rádios, como as valsas de Antenógenes Silva, as canções de Augusto Calheiros, os tangos de Gardel, blues, foxtrotes e sambas. Em vez de buscar inspiração em suas raízes nordestinas, Gonzagão acreditou que o caminho mais fácil para o sucesso e a fortuna seria seguir a onda da época.

Mas, para a sorte da música brasileira, um grupo de estudantes cearenses, numa dessas apresentações de Gonzagão na noite carioca, lançou uma provocação ao Rei do Baião e desafiou-lhe a apresentar algo da sua terra. Foi aí que ele se lembrou dos tempos em que tocava com o pai e decidiu dar um toque nordestino a polcas, mazurcas e choros.

Apresentou então duas peças que agitaram o público daquela casa de um jeito nunca visto antes. Pé de Serra e Vira e Mexe deram a Gonzagão três  pratos cheios de dinheiro na noite mais rentável até ali. Foi assim que ele percebeu que suas raízes nordestinas é que o levariam ao sucesso.

Embora não tenha ficado conhecido por seus choros, Gonzagão deixou, para Marcelo Caldi, um legado importante: “Esses choros para sanfona têm a mesma importância que as músicas de Pixinguinha para a flauta, de Ernesto Nazareth para o piano e de Waldir Azevedo para o cavaquinho”.

O Instituto Moreira Salles também disponibiliza no site www.ims.com.br gravações originais das 22 composições cujas partituras estão no livro. Há ainda um documentário em áudio com depoimentos de Dominguinhos, da biógrafa Dominique Dreyfus e de outras personalidades ligadas a Gonzagão.

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