domingo, 10 de novembro de 2013

Problemas do Grande Recife se repetem há mais de 100 anos

Boa parte dos problemas decorre de uma política que prioriza os transportes individuais. Foto: Alcione Ferreira/DP/D.A Press
“Os consertos da ponte da Boa-Vista vão com uma morosidade que é para admirar; o que se torna tanto mais sensível quanto de presente acha-se o transito dos carros desviado e por um lado em que se atolam em areia com incommodo e prejuizo daquelles a quem pertencem.” O texto, que saiu no Diario de Pernambuco, fala de obras que se arrastam indefinidamente atrapalhando o trânsito e a vida na cidade. Não fosse a grafia antiga das palavras e a forma do texto, poderia perfeitamente ser uma notícia publicada hoje. No entanto, é de 12 de setembro de 1863. Mais de 150 anos se passaram e diversos entraves urbanos insistem em continuar prejudicando o Recife. A reportagem consultou documentos, edições antigas do jornal - o mais antigo em circulação da América Latina - e obras acadêmicas, e constatou que problemas como lixo na ruas, falta de mobilidade, esgoto a céu aberto e obras públicas inacabadas fazem parte do cotidiano do recifense desde a época de nossos antepassados. Edições do Diario dos meses de setembro e outubro de 1863 trazem pelo menos quatro denúncias de trânsito truncado, provocados tanto pela presença de vendedores de capim na Rua do Sol como pelo excesso de entulho nas vias. O transporte público também sempre deixou a desejar, com serviços sendo considerados precários e caros pela população desde o final do século 19, segundo a tese de doutorado Os caminhos do olhar: circulação, propaganda e humor no Recife, (1880-1914), defendida pela historiadora Noemia Luz na UFPE. Como faz até hoje, a população recifense usava o Diario para protestar contra os maus serviços, muitas vezes depredando bondes ou descarrilhando trilhos. A tese também constata que os recifenses que andavam nas ruas do Centro da cidade 100 anos atrás se deparavam com calçadas esburacadas e lixo ao longo das vias. 

Descontinuidade
Para o pesquisador Leonardo Dantas, especialista na história do Recife, o lixo da cidade até piorou nas últimas décadas. “Hoje em dia a cidade fede. Chega dói ver o estado em que se encontra o Centro da cidade.” Dantas avalia, entretanto, que a cidade melhorou consideravelmente sua estrutura no último século, mas que vão continuar existindo problemas básicos de infraestrutura enquanto não houver uma estratégia eficiente de políticas públicas. “No Recife, não há um eixo de ações definido e continuado. Cada gestão faz o que quer. Cidades europeias conseguiram resolver diversos problemas urbanos adotando planos decenais, que eram cumpridos independentemente de quem está no poder.” 

O secretário municipal de Desenvolvimento e Planejamento Urbano, Antônio Alexandre, concorda com Leonardo Dantas quando o assunto é descontinuidade de ações. “A visão imediatista e eleitoral infelizmente ainda está na nossa cultura política, mas acredito que a sociedade está mais engajada, exigindo mais. E se conseguirmos implantar um modelo de gestão que tornem irreversíveis as mudanças iniciadas poderemos manter o planejamento de médio e longo prazos evitar a descontinuidade entre as gestões”, concluiu.

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