quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Seca que engole nascente do São Francisco deixa comunidades ribeirinhas em alerta

Leito do rio tomado pelo assoreamento no Norte de Minas é outra face da destruição que está sugando o Velho Chico
 (Frederico Martins/Divulgacao)
A nascente principal do Rio São Francisco, situada no Parque Nacional da Serra da Canastra, no município de São Roque de Minas, Região Centro-Oeste do estado, secou pela primeira vez, em decorrência daquela que já é considerada a pior estiagem da história no Sudeste brasileiro. A situação, confirmada ontem pelo chefe da unidade de conservação, Luiz Arthur Castanheira, coloca em alerta todas as comunidades ribeirinhas, diante da possibilidade de racionamento de água ao longo do chamado rio da integração nacional, o maior curso d’água que nasce e deságua em território nacional, estendendo-se por 2.700 quilômetros, em cinco estados (Minas, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe). Sua bacia hidrográfica alcança 504 municípios, incluindo cidades de Goiás e o Distrito Federal. “Terão que ser adotadas, imediatamente, medidas para promover o uso racional da água na bacia”, alerta o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Anivaldo Miranda, lembrando que a situação das nascentes também se reflete no nível crítico dos reservatórios de usinas, como a de Três Marias, que está com apenas 5,7% de sua capacidade. Miranda considera que o secamento de nascentes e a drástica redução no volume do rio devem servir como advertência para que o governo revise as outorgas de água e o funcionamento das hidrelétricas ao longo da bacia. 

“É preciso que o poder público considere esta situação como um sinal de alerta para a necessidades de mudanças no modelo da matriz energética do Rio São Francisco e de mudanças no programa de concessão de outorgas”, alertou. Segundo ele, o comitê vai procurar estabelecer negociações entre os entes da federação (esferas federal, estadual e municipal) para maior controle da retirada de água do Velho Chico. “Precisamos de um grande pacto em torno do uso da água, abrangendo todos os poderes. Hoje, só se olha para as demandas, mas temos que observar o aspecto da sustentabilidade. O rio não tem água para todo mundo”, afirma Miranda.

De acordo com o chefe da unidade de conservação que abriga o berçário do rio, Luiz Arthur Castanheira, não chove significativamente na região desde março. Segundo ele, outros olhos d’água e pequenos córregos situados nos 200 mil hectares do Parque Nacional da Serra da Canastra – que ajudam a formar o Velho Chico – também estão secos. Apesar da situação crítica, Castanheira informou que a Cachoeira Casca D’Anta, atração turística situada a 14 quilômetros da nascente principal do São Francisco, mantém a queda d água, apesar da redução do volume. Outra nascente importante da bacia, a do Rio Samburá, situada já fora da unidade de conservação, continua correndo, acrescentou.

Para agravar a situação, no fim da semana passada o Parque Nacional da Serra da Canastra foi atingido por um incêndio, que chegou perto da nascente principal do São Francisco. Castanheira, no entanto, afirmou que o fogo não teve impacto direto sobre a situação do manancial, que, segundo ele, já estava praticamente seco

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