sexta-feira, 13 de março de 2015

Quem ganha dinheiro com a estiagem no Semiárido?

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Historicamente, sempre houve quem ganhasse com a estiagem no sertão cearense. Durante décadas, era comum o uso da expressão "a indústria da seca". No passado, fornecedores de grãos de péssima qualidade, apontadores de grupos de trabalhadores, alistamentos fantasmas de agricultores, líderes políticos locais obtinham ganhos eleitorais e materiais. As ações de enfrentamento à seca mudaram a partir do fim dos anos de 1980, eliminando as tradicionais frentes de serviço.
No contexto atual, empresas de construção civil e prestadoras de serviços para o Estado e para particulares lucram com o aumento da demanda por instalação de sistemas simplificados de abastecimento de água, perfuração de poços, instalação de rede de energia elétrica, venda de materiais elétricos, e hidráulicos. Os exemplos são múltiplos, mas sobressaem-se duas atividades: a locação de carros-pipa e a perfuração de poços profundos. A demanda por busca de água subterrânea aumentou significativamente. Estima-se que, antes de 2010, havia dez empresas especializadas atuando no Ceará. Hoje são cerca de 30.
Não há, entretanto, dados sobre a quantidade de poços contratados por particulares, perfurados para produtores rurais e empresários urbanos durante o período de estiagem que castiga o Ceará. "Imagino que, em 2013 e 2014, foram perfurados cinco vezes mais do que em 2012", estima o empresário, Michael Delano, da Dana Poços.
O geólogo Joaquim Feitosa disse que antes do atual ciclo de seca poucos produtores rurais e empresários mostravam interesse por perfuração de poços profundos. "A necessidade despertou entre o governo, agricultores e empresários a importância da busca de água subterrânea", frisou Feitosa. "Muitos viram que não podiam ficar dependentes de carro-pipa, de pequenos barreiros que secam ou dos sistemas locais de abastecimento de água", afirma.
De acordo com Michael Delano, 80% da demanda são oriundos de produtores rurais e 20% de empresas e moradores de área urbana. Em média, o metro de um poço perfurado em solo cristalino custa R$ 100,00 e terreno sedimentar (aluvião), R$ 80,00. O estudo geofísico para alocação está em torno de R$ 1,000,00. O preço médio do poço instalado é R$ 12 mil.
O custo médio de uma cisterna de placa é estimado em R$ 18 mil. O de construção de um barreiro é bem superior. "O poço oferta água de qualidade, abastece famílias, carros-pipa e tem maior tempo de uso do que uma cisterna", observa Michael Delano. O geólogo Joaquim Feitosa destaca que dezenas de empresas de Minas Gerais, Pernambuco, Bahia, Pernambuco estão trabalhando no Ceará. O lucro estimado por poço é de 50%. "A maior parte dos recursos não fica aqui, no Estado", frisou.
No Centro do Estado, quem também está lucrando com a seca é o empresário Francisco das Chagas Cândido Costa, mais conhecido como "Ticão". Há mais de 15 anos ele se dedica ao ramo de perfuração de poços na região. Após não obter muito sucesso no comércio farmacêutico, aceitou o convite do cunhado e sócio, Francisco de Assis Capistrano, que é geólogo. Eles investiram R$ 600 mil na compra dos equipamentos e não pararam mais de trabalhar.
"Ticão" não revela o lucro da sua empresa, a LA Serviços de Perfurações, mas garante ter ocorrido um aumento substancial com a estiagem prolongada dos últimos anos. Antes de o quadro se agravar na região, da maioria dos açudes secarem, eles perfuravam, em média, 30 poços artesianos num mês. Agora a demanda chega a 60 poços, e tem gente aguardando na fila.
Conforme o empresário, o tempo médio para a perfuração de um poço é de 5 horas. O custo é de R$ 100,00 por metro linear. A água acaba sendo encontrada numa profundidade de 60 a 80 metros. O gasto do cliente chega em torno R$ 8.000,00 somente na perfuração, mas quem prefere o serviço completo, incluindo a bomba e a rede elétrica, o custo chega a R$ 15 mil. Os interessados podem procurar financiamento no Banco do Nordeste do Brasil (BNB), apesar de haver demora de até 60 dias para liberação do dinheiro

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